Tecnologia adequada pode prevenir novas tragédias como a de Mariana
O
recente desastre de Mariana parece enterrar com lama os esforços do Brasil de
se mostrar ao mundo como uma nação preocupada com a preservação do meio
ambiente e no planejamento e emprego de tecnologias sustentáveis.
Em
uma matéria publicada nesta semana, no jornal britânico "The Guardian", é citado
imagens apocalípticas de comunidades engolidas por lama e um rio inundado por
rejeitos de mineração. O artigo cita que o que causou o rompimento da
barragem ainda é desconhecido, mas que a tragédia poderia ter sido evitada se
fossem adotadas medidas preventivas e normas de regulamentação mais severas na
indústria de mineração brasileira.
Muitos
jornais também citaram que a ONU criticou o governo Brasileiro e as empresas
envolvidas no desastre pela forma como estão lidando com o problema. Isso deixa
claro que não havia medidas preventivas, muito menos um planejamento de como
atuar em caso de uma catástrofe dessa magnitude.
É
inconcebível que a barragem não tivesse sistemas de monitoramento que indicasse
riscos de rompimento, alertas sonoros e não houvesse um plano para evacuar os
moradores da região ou a preocupação com a contenção dos rejeitos para evitar
que eles se espalhassem até o litoral do Espirito Santo, destruindo e matando a
fauna e flora pelo caminho.
Minas
Gerais recebeu, em média, 12 novas barragens de rejeitos de mineração por ano
(uma por mês), entre 2008 e 2014, passando de 373 para 450 estruturas do tipo,
de acordo com dados da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e artigo publicado no jornal "O Tempo". A maioria dessas barragens é do tipo "molhada", quando os resíduos do minério são
acumulados com 60% de água e 40% de areia e outros rejeitos – como a do
Fundão e Santarém, da mineradora Samarco, que se romperam em Mariana. Mais baratas, as barragens molhadas se tornaram armadilhas
que ameaçam povoados, vidas e memórias e fazem com que especialistas repensem
alternativas mais seguras e compatíveis com o volume de produção.
No passado, quando ainda se tinha minério rico
a ser explorado – com mais de 60% de ferro, a produção de rejeitos era pouca
porque o material era extraído e enviado diretamente ao mercado, sem precisar
de separação ou beneficiamento. Com o aumento da demanda, no fim dos anos 70, a
Samarco começou, de forma pioneira, a extrair minério com pouca concentração de
ferro (45%), chamado itabirito. Para aumentar o teor de ferro ao ponto de ser
exportado, foi preciso muita tecnologia, e passou-se, então, a utilizar a água
para separar o minério da sílica (areia).
A extração a seco é mais cara, porém muito mais
segura. Resta saber se a tragédia de Mariana será suficiente para a adoção de "barragens
a seco" e de uma regulamentação mais severa e no uso de tecnologias que previnam novos desastres dessa natureza.
Comentários
Postar um comentário